Ladrões já levaram notebooks, projetor, câmera fotográfica, fiação elétrica, brinquedos, comida e fraldas; creche teve de suspender atendimento por falta de merenda

Porto Velho, Rondônia - "O que roubaram desta vez?". É com esse tom que Rafael Lopes, diretor do Centro de Educação Infantil (CEI) Wilson José Abdalla, na região central de São Paulo, tem sido recebido na delegacia. A creche onde ele trabalha tem vivido uma explosão de invasões durante as madrugadas, e as idas à polícia têm se tornado cada vez mais frequente.


Na madrugada desta terça-feira, horas depois de a reportagem do GLOBO visitar a escola para checar as denúncias de violência, houve um novo ataque. A nona invasão em 2024, e a quarta vez em um período de oito dias, causou o maior estrago até agora.

— Nossa escola foi arrombada essa noite. Levaram praticamente tudo dessa vez. Estou arrasada — diz a coordenadora pedagógica do CEI, Daniela Cazarini.

O clima na escolinha, que atende crianças de até três anos, era de desamparo na segunda-feira. A expectativa, que logo se provaria correta, era de que mais cedo ou mais tarde o próximo roubo aconteceria. Na semana anterior, o CEI ficou fechado por um dia após alguém roubar toda a merenda das crianças.

Ladrões têm invadido o terreno da escola durante a noite, principalmente aos fins de semana, para furtar de tudo. Já se foram aparelhos eletrônicos, fios elétricos, cabos, utensílios, comida e até mesmo brinquedos.

— Agora roubaram todas as fraldas, os notebooks, os monitores, comida, balanças. Compramos uma televisão ontem para instalar as câmeras de segurança, e eles a levaram. Dá muita revolta, ninguém faz nada — afirma ela.

O prejuízo no ano soma pelo menos R$ 23 mil, numa conta superficial, fora os gastos com reforço na segurança. A diretoria está em vias de comprar câmeras de vigilância no valor de R$ 20 mil ao todo.


CEI Wilson José Abdalla reforçou as grades, mas ladrões continuam roubando creche — Foto: Maria Isabel Oliveira/ Agência O GLOBO

— É um dinheiro que a gente poderia estar usando na parte pedagógica, comprando materiais, brinquedos, massinha, tinta de colorir — diz o diretor.

São mais de 20 invasões nos últimos quatro anos. A situação piorou depois que a prefeitura tirou a Guarda Civil Metropolitana (GCM) do local, em 2020. Desde então, os crimes contra a creche aumentaram.

Por um período de um ano, entre 2021 e 2022, o estabelecimento viveu uma tranquilidade provisória, quando alguns guardas foram deslocados para a escola para cumprir as Deac (Diária Especial por Atividade Complementar). Como passavam as noites dentro do centro educacional, os invasores não chegavam perto.

Desde então, a onda de criminalidade recrudesceu. Este mês de maio teve mais invasões do que qualquer ano entre 2020 e 2023. No livro de registro das atividades da GCM na escola consta que a última vez que um guarda municipal esteve lá foi há três semanas. Antes disso, havia sido em 7 de fevereiro.

Situação similar ocorre com no endereço ao lado, a Escola Municipal de Educação Infantil (Emei) Prof. Alceu Maynard de Araújo, que atende crianças numa faixa etária superior.

A Emei calcula um prejuízo de ao menos R$ 30 mil no ano com as invasões. Os ladrões já levaram câmeras fotográficas, micro-ondas, forno, notebooks, toda a fiação elétrica do prédio e o pressurizador da bomba d'água, que deixou a escola paralisada.

A diretora Simone Paier se diz desolada por conta da situação, e critica as autoridades pela falta de vontade de resolver o problema. Na visita do GLOBO ao local, o ateliê das crianças estava às escuras, e buracos nas paredes tinham sido cobertos às pressas com cimento, para evitar novas invasões.

— Eu nem faço mais BO (boletim de ocorrência). Não posso ficar o dia todo na polícia. Todo fim de semana tem alguém aqui dentro — diz Simone.

Simone instalou câmeras de segurança na Emei, mas mesmo assim as invasões continuaram. Pela gravação em vídeo é possível ver um indivíduo passeando tranquilamente pelo terreno da escola na madrugada do último fim de semana. Após ficar quase duas horas no local, ele sai com uma sacola de objetos furtados.

Câmeras de segurança flagram invasor em escola, mas vigilância não impede roubos — Foto: Maria Isabel Oliveira/ Agência O GLOBO

Agora, às vésperas do feriado de Corpus Christi, quando as escolas ficarão fechadas por quatro dias seguidos, os diretores temem que os invasores tenham mais tempo para ampliar o prejuízo. No CEI, o assalto desta terça-feira deixou poucos bens de valor para serem levados. Enquanto isso, as crianças seguem com cada vez menos condições de aprendizado, na medida em que a infraestrutura da escola vai sendo desmontada com a tolerância do poder público.

Procurada, a prefeitura de São Paulo, por meio da Secretaria Municipal de Educação, "lamenta que as unidades escolares, espaços que deveriam servir à comunidade, destinados à convivência, educação e formação de estudantes, tenham sido vítimas de furtos".

"Os boletins de ocorrência foram registrados em todos os episódios. As Diretorias Regionais de Educação e a direção das escolas vão tratar com a Guarda Civil Metropolitana sobre reforço no patrulhamento preventivo e novas ações estratégicas no entorno das unidades", informou a pasta.


Fonte: O GLOBO