Porto Velho, Rondônia - Ainda que os índices oficiais de inflação e desemprego sejam positivos no momento, a percepção dos brasileiros sobre esses temas é um dos principais fatores que comprometem a aprovação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que sofreu nova oscilação negativa, conforme pesquisa Genial/Quaest divulgada na quarta-feira.
No levantamento, realizado entre 2 e 6 de maio, o percentual dos que aprovam o trabalho da gestão Lula oscilou de 35% para 33% em relação a fevereiro, enquanto as percepções negativas passaram de 34% para 33%. O grupo que classifica o governo como “regular” variou de 28% para 31%. Levando em conta a margem de erro, de 2,2 pontos percentuais para mais ou menos, os três grupos são estatisticamente equivalentes.
Os resultados reafirmam o que tem sido apontado em seguidas pesquisas: dados positivos na área econômica não se traduzem automaticamente em boa vontade no eleitorado.
Para 67% dos entrevistados, o poder de compra dos brasileiros diminuiu nos últimos 12 meses, enquanto 19% acham que aumentou. Nunca antes no governo Lula 3 houve tantas pessoas com o sentimento de que a inflação apertou, e tão poucas com a sensação de que bens e serviços estão mais em conta. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) mostra que a inflação acumulada em 12 meses foi de 3,93% até março, índice abaixo do teto da meta. O grupo alimentação e bebidas teve alta ainda menor, de 3,10%, mas 73% dos brasileiros dizem que os alimentos estão mais caros.
Os resultados da nova pesquisa Genial/Quaest — Foto: Editoria de Arte
Dia a dia
Especialistas explicam que índices como o IPCA atribuem diferentes pesos para cada item, e que essa importância não necessariamente corresponde ao que as pessoas sentem no dia a dia. O cientista político Eduardo Grin, da Fundação Getulio Vargas (FGV), avalia que essa desconexão entre os dados oficiais e a percepção popular pode também ter a influência das narrativas difundidas nas redes sociais:
— Não é sem sentido que alguém diga que os preços estão mais altos, quando o conjunto de itens que compõem o IPCA não reflete o que de fato aquela pessoa consome. A maioria tem a percepção de que a economia piorou, e isso impacta em como as pessoas veem a inflação e o desemprego. Isso possivelmente também é muito influenciado pela polarização política que se mantém na sociedade.
A trajetória do desemprego, que atingiu no primeiro trimestre o menor nível para o período desde 2014, também não é assimilada de forma positiva pela maioria. São 43% os que acreditam que o número de pessoas sem trabalho aumentou, contra 32% que reconhecem que houve redução.
— Todo mundo conhece alguém que está desempregado, principalmente acima dos 40 anos, gente que teve suas profissões transformadas pela automação e tecnologia. Isso faz com que a percepção seja pior que a realidade — diz o professor Paulo Feldmann, da Faculdade de Economia e Administração (FEA) da USP.
O novo recuo numérico na avaliação do governo é o quarto consecutivo registrado desde agosto do ano passado, quando a gestão Lula atingiu seu ápice de aprovação, de 42%. Mas o fato de a reprovação ter parado de subir, destaca o CEO da Quaest, Felipe Nunes, revela avanço em relação às pesquisas anteriores:
— O governo conseguiu interromper uma tendência de queda, mas não reverter o mau humor da população com a economia. A maioria acha que o país está na direção errada, que o governo não está entregando suas promessas, que a economia não está bem.
Subiu de 43% para 49% o percentual dos que veem o Brasil caminhando na direção errada, enquanto os que têm percepções positivas passaram de 45% para 41%. É a primeira vez desde outubro que o número de brasileiros que veem o país dando marcha a ré supera o dos que se dizem satisfeitos.
Apesar da oscilação negativa no geral, Lula passou a ser mais bem avaliado no Sul, em meio à tragédia que atinge a região. Nunes afirma que a “hipótese mais provável” para a melhora é a ajuda federal enviada ao Rio Grande do Sul. As notícias sobre o apoio estiveram entre as mais lembradas pelos entrevistados da Quaest. Lula também teve evolução junto aos evangélicos, grupo que mais tem sido avesso ao presidente desde a campanha de 2022.
— O governo estancou a perda junto aos evangélicos. Não significa que houve uma redenção, mas os dois movimentos, de evangélicos e sulistas, são importantes — destaca Nunes.
Ruído na comunicação
O presidente tem reclamado das ações de comunicação dos ministros, alegando que a população não está sendo bem informada sobre as realizações do governo. Segundo a pesquisa, mais da metade das pessoas afirma desconhecer dois programas federais: o novo PAC, lançado em agosto e que está sob responsabilidade do ministro Rui Costa (Casa Civil), e o programa Acredita, anunciado no mês passado pela pasta de Wellington Dias (Desenvolvimento e Assistência Social).
Os três especialistas ouvidos pelo GLOBO concordam que há problemas na comunicação, mas são unânimes na avaliação de que essa não será a tábua de salvação para a aprovação popular.
— A comunicação pode melhorar, mas para conquistar uma parcela mais ampla de eleitores é preciso a entrega de políticas públicas. Não adianta só falar para os evangélicos, é preciso apresentar alguma coisa — diz o professor da FGV.
A pesquisa Genial/Quaest ouviu 2.045 pessoas de 2 a 6 de maio. Foram realizadas entrevistas em 120 municípios. A margem de erro é estimada em 2,2 pontos percentuais para mais ou menos, para um nível de confiança de 95%.
Fonte: O GLOBO
0 Comentários